A Questão Nacional No Século XX
pp- Jorge Abelardo Ramos

A questão nacional muda de carater quando a constituição do imperialismo no final do século XIX abre o período do saqueo geral de povos e continentes enteiros. No século xx a questão nacional se liga intimamente à questão colonial e à luta contra o imperialismo mundial. Nos tempos de Marx e Engels a questão nacional aparecia como a forma atrasada da formação dos Estados Nacionais nos paises nos quais por diversas razões ainda não haviam logrado sua coesão estatal: Alemanha, Italia, Polonia, Irlanda, os checoslovacos, finlandeses, sérvios, armenios e outras nacionalidades européias.
Os escravos e semi-escravos da Ásia, África, e Latino-america não estavam nas considerações teóricas dos socialistas da II Internacional pertencentes às “Nações civilizadas”. A questão nacional restrigia-se à questão nacional dos aludidos européus de segunda classe. A II Internacional havia-se formado como resultado do crescimento do capitalismo européu na hora de seu supremo esplendor; os européus, tanto quanto os gregos gozavam das vantagens da cultura ocidental graças à exploração iníqua das colônias.
Retiam para si as liberdades democráticas que as nações rejeitavam a seus escravos. Um proletariado privilegiado havia-se criado em tais circunstâncias, mas o socialismo deste proletariado só abraçava o campo da civilizacão. Tal foi o carater do reformismo da II internacional, ( atual Internacional socialista) que não só se manifestava pelas teses de Berstein em relação à utopia de uma revolução catastrófica, senão que tendia a repetir, em condições radicalmente diferentes, os primeiros juiços de Marx e Engels sobre o futuro do mundo semi-colonial e colônial: este sería arrastado ao socialismo pelo proletariado triunfante de uma Europa socialista.

Embora, este socialismo obeso da II Internacional da “belle époque”, projetava a revolução para um futuro distante. Pregava a filosofia do repouso e as maravilhas da evolução constante. Os fundamentos materiais dessa doutrina eram eloqüentes, já que desde a paz de Sedán em 1870 até o conflito de 1914, o capitalismo havia empreendido uma assombrosa carreira: a prosperidade geral, o luxo, a cultura e a paz permitiram corromper a vastos circulos de obreros na Europa e assentar as bases de uma ideologia conformista que parecia justificar os juízos de Berstein.
Era previsível que a questão colonial e nacional dos países atrasados não tivesse importância para a social-democracia envolvida nessa atmosfera de incessante bem-estar.

Um debate no Congresso de Stuttgart

Em relação a este fato bastará assinalar um episódio significativo do Congresso Internacional Socialista realizado em Stuttgart em 1907, ao que Lenín considerou:
“o melhor congresso internacional que se tenha celebrado jamais”...
Haviam-se reunido em Stuttgart 884 delegados de 25 nações. Estiveram presentes duas épocas: os grandes dirigentes da social-democracia européia, Augusto Bebel, Clara Zetkin, Kautsky, Rosa de Luxemburgo e os chefes revolucionários desse Império multinacional situado entre Europa e Ásia, entre a revolução socialista e a revolução nacional: Lenín, Trotsky, Martov, Plejanov. As resoluções sobre o militarismo, o imperialismo e as perspectiva da guerra foram perfeitas . Somente um fato surpreendente e lamentável viu Lenín no brilhante Congresso da Internacional : a discussão sobre a questão colonial.
Na comissão que estudou o tema a maioria adotou um projeto de resolução no qual lia-se o seguinte:
“O Congresso não rechaça por principio em toda ocasião uma política colonial, que sob um regimem socialista, possa exercer uma influência civilizador”
Lenín qüalificou de “mostruosa” a frase. O dirigente socialista alemão Eduardo David quem manteve essa teses.
Afirmava que “não se pode combater algo com nada. Contra a política colonial capitalista, os socialistas devem propor um programa positivo de proteção dos direitos indígenas”

O expositor da posição socialista no Congresso Socialista foi o holanês Van Kol (naquela época ainda a pequena e civilizada Holanda gozava dos frutos de três séculos de exploração de milhões de Indonesios semi-escravos).
O socialista Van Kol de uma lógica rigorosa: afirmou que
“o anticolonialismo dos congressos não havia sido útil para nada e que os social-demócratas deviam reconhecer a existência indiscutível dos impérios coloniais... e apresentar propostas concretas para melhorar o tratamento dos indígenas, o desenvolvimento dos recursos naturais e o aproveitamento dos recursos em beneficio de toda a raça humana.
Perguntou aos contrários ao colonialismo se estavam realmente preparados, tendo em conta a situação real, para prescindir dos recursos das colônias, embora seus povos os precisassem muito.
Lembrou que Bebel havia dito que nada era mau no desenvolvimento colonial como tal e se refiriu aos êxitos dos holandeses ao conseguir melhoras nas condições dos indígenas”.
Estes confortáveis socialistas européus de 1907 não tinham piedade dos indígenas até o extremo de pôr em perigo seus chalets com tetos de lousa, seu bom licor de Guinea, suas chaminé fumegantes e seus abrigos beludos. Van Kol, com essa insinuante pergunta, persuadiu dos recursos naturais necessitados por seus povos.
Naturalmente Van Kol tinha suas própias idéias sobre a melhor maneira de conquistar uma colônia:
“Todas as forças socialistas devem impedir a consumação destes regímenes salvagens de conquista e procurar que se fizerem colonização, se faça para dignificar homens e não para atrofiar e envilecer os povos”.
Exelente conselho. Também o holandês se permitiu acrescentar que em “circunstâncias determinadas, a política colonial pode ser obra de civilização”, embora discretamente se reservou de descrever tais circunstâncias para o socialismo. Concluiu sua exposição assinalando o porvir:
“Há poucos socialistas que ousariam de afirmar que no regime socialista não serão necessários as colônias, que se fará da super-população da Europa?...
O delegado alemão Eduard David não esteve por baixo do holandês. Lembrou ao Congresso que “em um manifesto eleitoral, o grupo socialista parlamentário ha declarado que os povos de civilização superior têm o direito e o dever de dar educação aos povos atrasados”.

Desde o outro ponto de vista este “socialista” acrescentou :
“A Europa tem necesidade de colônias. Não tem, a pessar de tudo , as suficientes. Sem colônias seríamos assemelhados, desde o ponto de vista econômico, à China”.. Resultou espectacular o resultado da votação , pois a pessar de tais opiniões o Congresso rechaçou a moção colonialista somente por 128 votos contra 108. A vitória, embora por pouco margem, foi lograda pelos votos dos países mais atrasados, enquanto que a moção colonialista, como coubia esperar, contou com o apóio dos grandes partidos socialistas da Europa. Os russos votaram, naturalmente, em contra.

O único partido da América do Sul representado no Congresso de Stuttgart foi o Partido Socialista da Argentina. Por isso que o seu voto fosse ainda mais representativo, pois deu seu apóio à moção anticolonialista. O partido do Dr. Juan B. Justo, notório partidário das expedições civilizadoras a Africa e da supremacia da raça branca? Isto sería realmente inexplicável se não fosse pelo fato de que o Dr. Justo e seus amigos não viajaram aquele ano à Alemanha. Dito partido teve que ser representado por seu delegado permanente na Oficina Socialista Internacional, Manuel Ugarte. Ugarte deu seu voto, junto a Lenín, os poloneses, os búlgaros, os sérvios, os espanhóis e outros,contra o descarado colonialismo dos partidos européios. Como para que resulte inexplicável o enterro histórico de Ugarte! Os suiços, cujo socialismo impartia-se nas escolas de hoteleria, expresaram sua infinita moderação abstendo-se.

Educado em uma atitude reverencial para a social-democracia alemã, Lenín advirtiu impávido ao cínico oportunismo dos grandes chefes desse país. Ao comentar os resultados do Congresso de Stuttgart depois escreveu:
“Neste caso há feito ato de presença um rasgo negativo do movimento obrero européu, rasgo que pode provocar não poucos prejuízos à causa do proletariado ... o amplo poder colonial há levado em parte ao proletariado européu a uma situação, que não é seu trabalho o que mantém a toda a sociedade, senão o trabalho dos indígenas quase totalmente dominado pelas colônias.
A burguesia inglesa, por exemplo, obtém mais ingressos dos milhões de habitantes da Índia e de outras colônias suas do que a dos obreros ingleses. Tais condições criam em certos países uma base material, uma base econômica para poluir de chovinismo ao proletariado desses países”.

Os mesmos colonialistas da II Internacional que propunham justificar desde a visão “socialista” a política colonial de seus Impérios foram os mais resoltos partidários da primeira guerra imperialista.
Este modelo de debates desgostava ao fundador do socialismo extrangerisante na Argentina. O Dr. Justo daria seu juízo sobre o Congresso de Stuttgart depois de alguns anos, nos seguintes termos:
“Os depoimentos socialistas internacionais sobre as colônias, exceto algumas frases sobre a sorte dos nativos, se hão limitado a negações sem sinceridade e infecundas. Não mencionam sequer a liberdade de comércio, que houbesse sido a melhor garantia para os nativos e reduzido a questão colonial ao que devia ser”...
O livre-cambismo como garantia para os indígenas escravizados: hei alí ao “mestre” do socialismo argentino em toda sua sabeduria.

Não temos mencionado o nome de Manuel Ugarte como delegado ao Congresso Socialista de Sttugart por casualidade. Enquanto que o russo Lenín se surpreendia em frente ao colonialismo dos delegados européus, Ugarte não tinha motivos para maiores surpresas. Os conhecia muito bem, por suas freqüentes visitas à Europa e de primeira mão estava informado sobre os libres-cambistas argentinos. Em todos seus livros Ugarte estabeleceu uma diferença radical entre os países chamados civilizados, ou seja as grandes potências imperialistas e os países fracos, conhecidos como colônias ou semi-coloniais. Esta mesma distinção essencial havia sido marcada por Lenín, muito antes do que os dirigentes russos estabeleceram depois de sua morte un novo antagonismo: o Estado Socialista e o mundo capitalista.
Posteriormente, os chineses da época de Mao-Tse-Tung coincidiram em classificar os grandes dilemas de nossa época no enfrentamento entre os países do Terceiro Mundo e as potências imperialistas, porém a luta entre o Leste e Oeste.

Levando a consideração os movimentos nacionais desde o ponto de vista puramente econômico (perigosa redução que é necessário menejar com prudência), o conteúdo dos movimentos nacionais pode ser abreviado deste modo:

“Em todo o mundo, a época do triunfo do capitalismo sobre o feudalismo esteve ligada a movimentos nacionais. A base econômica destes movimentos estriba em que, para a vitória completa da produção merantil, é necessário que territórios com povoação de um só idioma adquiram coesão estatal, sendo assim eliminados quantos obstáculos se contrapuserem ao desenvolvimento desse idioma e a sua consolidação na literatura. O idioma é a maneira essencial de comunicação entre os homens: a unidade do idioma e seu livre desenvolvimento é uma das condições mais importantes de uma circulação mercantil realmente livre e ampla, que responda ao capitalismo moderno; de uma agrupação livre e ampla da povoação em todas as classes. É por último, a condição de uma estreita ligação do mercado com todo proprietário, grande ou pequeno, com todo vendedor e comprador”.

Nações oprimidas e nações opressoras

Já temos dito que no século XIX a questão nacional, traçava-se nos países atrasados da Europa, Alemanha, Italia, Polônia, etc. Os movimentos nacionais no século XX embora não se manifestam na Europa senão fora dela, isto é, nos países colonias e semi-colônias, onde aparecem não em virtude do desenvolvimento as forças produtivas internas alias pela crisis mundial do imperialismo que os oprime. Em tais condições, os movimentos nacionais dos países atrasados já não livram sua luta contra o feudalismo interno senão contra o imperialismo externo, ao que enfraquece nos seus próprios cimentos.

Para desmentir àqueles que confiavam em uma progressiva “pacificação”e “brandura” do imperialismo a causa da prosperidade adquirida depóis de 1945, seus traços agresivos e expansivos não hão feito mais que aumentar. As intervenções norte-americanas em Cuba, Santo Domingo, Grenada, e Nicaragua, a agressão militar inglêsa nas Malvinas, da mesma maneira que a intrusão ianque na Coréia e em Vietnam, para não esquecer o conflito do Canal de Suez em 1956, demostram categoricamente o carater agressivo do imperialismo moderno.
Transformada a União Soviética em grão potência da era misilística, seus postulados de “internacionalismo proletário” não hão podido ocultar a invasão militar na Hungria, Checoslováquia, e Afganistan, mesmo assim como a pressão militar e política sobre Polônia. Os conflitos fronteriços entre a U.R.S.S e a China, que mantem sobre as armas a multidões de homens, o mesmo que o estado de guerra quase permanente entre Vietnam e Cambóia, constituem a demostração mais perfeita que a conquista do poder e a creação de um Estado considerado a si mesmo como socialista, fundado na propriedade estatal dos médios de produção, não põem ponto final às aspirações nacionalistas e territoriais das mencionadas nações.
Se a U.R.S.S há chegado a ser um país imperialista, como afirmam os chineses, é um tema que deixaremos para seu tratamento aos politicólogos ou “marxólogos”, se for que houver profissões semelhantes. Da história contemporânea em todo caso, desprende-se que enquanto os russos e americanos procuram um “equilibrio” que preserve seus poderes e áreas de influências, para os povos do Terceiro-mundo e de Latino-américa o máximo objetivo não é o equilibrio senão a rutura do equilibrio. Em isso radica sua própia salvação.
Que dita luta está longe de ser simples, racional e transparente, o demostra a série de movimentos nacionais que irrompem no Terceiro-mundo sob as roupagens mais diversos e muito longe da tipología política concebida pelos européus.
Em nome do Islam, sob a condução do Ayatollah Komeini, do “socialismo árabe” como o Coronel Kadhafi ou o Exército peruano com o General Velazco Alvarado, as velhas noções sobre o caráter “revolucionário” dos movimentos nacionais e sociais hão perdido todo valor. O próprio conceito ocidental do “progressivo” ou “reacionário”, ou da “esquerda” ou a “direita” de idêntico origem exige seu uso com escrupuloso cuidado.

Sob as forças reais em presença e suas máscaras ideológicas León Trotsky há escrito o seguinte:
“O imperialismo somente pode existir porque há nações atrasadas em nosso planeta, países coloniais e semi-coloniais. A luta destes povos oprimidos pela inidade e a independência nacional tem um duplo caráter progressivo, pois, por um lado , prepara condições favoráveis de desenvolvimento para seu próprio uso, e por outro, dirige rudes golpes ao imperialismo.
De onde se seduz, em parte, que em uma guerra entre a república democrática imperialista e a monarquia bárbara e atrasada de um país colonial, os socialistas devem estar enteramente do lado do país oprimido, a pesar de serem monárquico, e contra do país opresor, por muito “democrático” que seja.

Espontaneamente vem à memória a guerra de Malvinas. Um conflito que foi mantido entre um governo militar de uma ditadura na Argentina semi-colonial contra um país imperialista governado democráticamente, como o Reino Unido. No entanto, como resultou notório para toda Latino-américa, menos para grão parte da “inteligência” argentina as “formas” políticas encobriram o desnivel histórico-social de ambos países. E do mesmo modo que no interior de uma nação as forças revolucionárias, nacionalistas ou socialistas, sempre apoiam as aspirações de justiça das maiorias obreras e populares contra das minorias oligárquicas, em escala internacional e seu dever é apoiar ao país injustamente relegado contra as potências que exercem a injustiça a escala planetária, qualquer sejam transitoriamente os regimenes políticos de ambos países.

Nos textos reproduzidos pode observar-se que os teóricos e políticos russos, haviam compreendido os problemas de Oriente de um modo penetrante. Seus sucesores na União Soviética pouco têm aprofundado na matéria. Seus interesses de grão potência lhes sugere uma conduta básicamente dirigida a apresentar tal condição. Assim como o livrecambismo é uma doutrina imperialista para a exportação, para a União Soviética os artigos de exportação é o “socialismo internacionalista”, mas o grão nacionalismo russo seu metro de ouro.
Que a democracia formal não é o elemento para valorar os movimentos nacionais, senão que para juzgá-los se impõe estudar as conseqüências praticas derivadas de sua luta contra o imperialismo; e de que o mundo moderno assiste à oposição mundial entre países opressores e países oprimidos, estas são as teses principáis do debate no socialismo européu e asiático do periodo citado. Compreende-se que Internacional socialista e os social-demócratas de hoje recusam aceitar teses semelhantes que já tinham rechaçado seus antecesores da II Internacional. Isso significaría condenar-se a si mesmos e à própria Europa “socialista” aonde estabelecem seu poder.

Conseqüências na Latino-américa do desconhecimento de seus problemas pelos teóricos marxistas-leninistas

Nas Obras Completas, de 40 volumens, Lenín só refere três vezes a América do Sul, seis vezes à Argentina, quatro ao Brasil, quatro a México, e só uma vez a Chile. Trata-se pelo demais , de referências incidentáis, miutas vezes incluidas em uma menção estadística. Aos restantes Estados de Latino-américa não os alude jamais. Em um artigo escrito em 1916, diz: “Não vamos a “sustentar” a comedia da república em algum principado de Mónaco ou as aventuras “republicanas” dos “generáis” nos pequenos países da América do Sul ou em alguma ilha do Oceano Pacífico, mas disto não se deduz que seja permitido esquecer a consigna da república para os movimentos democráticos e socialistas”

Nas discussões dos primeiros Congressos da Internacional Comunista, Latino-américa foi omitida por completo. O Presidente da Internacional, Gregori Zinoviev, no V Congreso de 1924 disse no seu discurso:”Pouco ou nada sabemos da Latino-américa”.
O delegado por México era um escritor norte-americano, Bertram Wolfe, quem protestou por essa ignorância. Zinoviev contestou: “É que não se nos informa”...
Antes de radicar-se no México, onde formulou juizos notáveis sobre a revolução Latino-americana, León Trosky tampouco tinha conhecimentos sérios sobre Latino-américa. Em sua História da Revolução Russa escreveu:
“As revoluções crônicas das Repúblicas Sul-americanas nada têm de comum com a revolução permanente; em certo sentido, contituem sua antiteses”.
Na Latino-américa havia tido lugar a revolução mexicana! Sandino combatia com as armas na mão contra as tropas Ianques, a Coluna Prestes marchava através de todo o Brasil, o movimento nacional Yrigoyenista lebava ao poder à pequena burguesía nacionalista, mas os notáveis teóricos e chefes da Revolução Russa “careciam de informação”.

A impermeabilidade da teoría marxista em Latino-américa não só derivava da indiferença para estas duas grandes figuras euro-asiaticas do socialismo. A própria doutrina se contrapunha à “americanização”. Pois o que conhecemos como “doutrina marxista” jamais foi concebida como tal por Marx, quem somente se consagrou a pensar e escrever sobre muitas das mais variadas questões sem remontar-se jamais a sistema algum. A imediata posteridade tomou a seu cargo formular uma especie de “codificação” de suas idéias mas logo a familia se separou em múltiples e antagônicos sucessores. O essencial do pensamento marxista, enquanto que permanece inmutável em seus diversos interpretes, salvo na “prática” de Lenín e de Mao, é sua universalidade e seu internacionalismo. Desta maneira entrou a “doutrina marxista” em Latino-américa, que sofria de universalidade e de internacionalismo até o martírio, pois havia sido despedazada em sua integridade nacional e incorporada ao mercado mundial do imperialismo.
Com a finalidade de que essa “doutrina marxista”, fosse útil, havia que destruí-la e utilizá-la novamente no seus elementos viventes para voltar reconhecível à realidade Latino-americana. É o que tinha feito Lenín na Russia e Mao na China. Mas constituiu uma tarefa excessiva para os homens fracos dos partidos comunistas latinoamericanos, que faziam culto aos russos e aos chineses e repetiam como louros barranqueiros a ambos, sem entender a nenhum dos dois, e muito menos ainda à América Crioula.

Exceção feita por Haya de la Torre e de José Carlos Mariátegui, nenhum dos partidos comunistas latino-americanos, puderam brindar uma generalização teórica e creações originárias às grandes experiências revolucionárias latino-americanas.
A inprensa imperialista europèia havia submetido a sua gozação despiadada as “crônicas revoluções Sul-americanas”, produto direto da “balcanização” imposta e aproveitadas por essas mesmas potências. A informação dos revolucionários da Europa devia nutrir-se, a falta de outras mais responsáveis, destas fontes contaminadas.
Pois os problemas da revolução latinoamericana, portanto, deverão ser estudados e resolvidos pelos próprios latino-americanos. Já que isso mesmo tinha ocorrido em todas as revoluções.

Se cada revolução é “peculiar” e “excepcional”, nos píses semi-coloniais cruzam-se diversos níveis técnicos e períodos históricos de surpreendente antagônismo; esta combinação de atraso e progresso, de indústria e barbárie produz fenômenos sociais e políticos determinantes da ação política e de seus grandes objetivos. Ainda dentro de Latino-américa balcanizada ditos níveis revelam diferenças muito acusadas que exigem múltiples métodos políticos de ação revolucionária.

As Repúblicas Quéchua e Aimara

Quando o processo conservador da União Soviética afetou o funcionamento da Internacional Comunista, se manifestaram em Latino-américa os câmbios produzidos na direção latino-americana do comunismo. Se Lenín e Zinoviev confesavam que nada sabiam de Latino-américa, Stalín pretendia sabê-lo todo. A situação piorou, como era de esperar.
Iniciou-se o período “stalinista”. Das vaguidades e abstrações dos inexperientes comunistas latino-americanos magnetizados pelos primeiros anos da Revolução russa, se passou à aplicação de fórmulas ressecas extraidas de Moscou e aplicadas de maneira implacável à realidade de Latino-américa. Deste modo, o stalinismo do Perú pode proclamar em 1931, a teoria de afastar esse país em duas Repúblicas, uma quéchua e outra aimara.

O Partido Comunista da Argentina

Ao registrar a presença de milhares de camponeses judéus nas colônias de Entre Rios, declarava que ditas “minorias nacionáis” estavam oprimidas pela “ nacionalidade argentina dominante”e afirmavam o direito dos colonos italianos e judéus “à autodeterminação nacional”, e à creação de Estados autônomos. Na Bolivia um dos últimos fragmentos separados do Vice-Reinado do Rio da Prata, e que simbolizava o fracasso do Libertador para unificar Latino-América, viria ainda aparecer outra teoría da
balcanização levada nesta vez ao delírio mesmo.
Um teórico do stalinismo boliviano, Jorge Obando, realizou um examem da estrutura “nacional” da Bolivia e descubrui que esta República, composta pelas velhas provincias alto-peruanas de Vice-Reinado do Rio da Prata, que a oligarquia portenha lançou a uma autonômia suicida e à qual o Chile na guerra do Pacifico arrebatou sua saida ao mar, além disto o território de Antofagasta, sería um “Estado Multinacional”, opressor de dúzias de nacionalidades.
A “Nacionalidade boliviana dominante” oprimiría a 34 nacionalidades, tribus e fragmentos etnográficos “subjugados” por aquela. Diz o senhor Obando: “se Bolivia é um Estado Multicolonial, que nações, nacionalidades, tribus e grupos etnográficos entram em sua composição?
Nós consideramos que a Bolovia está constituida por: uma nação: bolivianos; cinco nacionalidades principais: aimaras, quéchuas, chiquitos, moxos, chiriguanos; oito nacionalidades pequenas: chapacuras, itonamas, canichanas, movinas, cayuvavas, pacaguaras, iténez, guarayos; várias tribus e grupos etnográficos: chipayas, urus, yuracarés, mocetenes, tacanas, maropas, apolistas, tobas, mataguayos, abipones, lenguas, samucos, saravecas, otuques, curuminacas, covarecas, curavés, tapiis, curucanecas, paiconecas e sirionós”...

O General Belgrano, apoiado pelo General San Martín, propunha em 1816 estabelecer uma monarqía incaica para América em emancipação, a tese monárquica perseguia o objetivo de contar para a revolução com as grandes massas do aniquilado império incaico e de facilitar um nível tal de centralização política que tornasse imposível a dispersão dos novos estados.
Se houvesse truinfado esta teses, talvez o quéchua com o espanhol teriam sido as línguas dominantes da América crioula , unida e independente, talvez com uma terceira língua a que falavam os mexicas.
Grandes nações, como Canadá, são biligües, e Estados prósperos como a Suiça falam cuatro línguas, para não falar da União Soviética, onde se falam e escrevem dezenas de línguas.
Nesse caso, não teria sido imposível um marquesado incaico para o senhor Obando e a impossibilidade de que Stalin não houvesse entrado jamais na vida do Marquês. Mas não pude ser.

Afetado de grave russificação, Obando há degradado a questão nacional Latino-americana à condição de pura etnografía. Esta reivindicação abstrata dos direitos indígenas -que não possui Bolovia no seu conjunto- tenta erigir às diversas etnias em fatores independentes do destino da Bolivia e de Latino-América.
A tradicional resistência dos aimaras e quéchuas a usar a língua castelhana não é só psicológica ( por tratar-se da língua dos antigos dominadores) senão que ante tudo reconhece uma causa social, econômica e cultural. A segregação de camponeses indígenas da econômia moderna, a subsistência do regime do “pongueaje”*, sua reclusão na econômia natural, seu secular afastamento da cidade monetária e do mundo mercantil eram as causas que fixavam às línguas tradicionáis ao segregado e explorado campones quéchua o aimara.

Já Mariátegui tinha identificado o indio com campones havia situado o problema em seu verdadeiro terreno ao transferir a questão racial à questão agrária. Bastou o triunfo da revolução nacionalista de 1953 e a resolução elemental da questão com a distribuição de terra entre os camponeses , para ampliar a influência linguística espanhola na Bolivia. A necessidade de comerciar os excedentes nas cidades e a descoberta comovedora de sua liberdade pessoal, assim como de seu inédito poder de compra, impulsionou a centenares de camponeses proprietários a apreender o castelhano. As escolas nas zonas rurais prepararam desde então às novas generações no uso la língua nacional de Latino-américa, junto ao português.
Nos caso que nos atinge, só ao imperialismo disgregador, cujas predileções “indigenistas” são bem conhecidas, assim quanto sua sutil campanha anticatólica e anti-hispánica, pode beneficiar a tendência a multiplicar os grupos nacionais ou lingüisticos ou, melhor ainda, os novos Estados, em uma América Crioula fragmentada desde a morte de Bolívar e cuja última República de Panamá, em 1903, resultou uma invenção do imperialismo Ianque para contruir o Canal de Panamá contra a oposição do senado da Colômbia, país do qual Panamá era sua provincia nortenha.

Bem, está certo que o enunciado de Mariátegui era algo simples, e que o título de propriedade de seu prédio não transformava de um dia para outro aos melancólicos filhos de Atahualpas em “farmers” do Méio-oeste norte-americano.
Pesava sobre eles um doloroso fardo de séculos e a mirada hostil de uma cultura diferente.

Depois da ação do imperialismo disgregador, corresponderia ao stalinismo russificante realizar um esforço regresivo da classe à raça, da Nação Latinoamericana ao Estado Boliviano e do Estado Boliviano ao Estado Multinacional (ou pluri-tribal)- Esta grotesca e à vez trágica teoría, e precisamente por seu pueril exageração, permite inundar de luz o debate e apreciar suas verdadeiras proposições.

O Insularismo stalinista

Uma teoría fragmentista de índole indigenista, como a proposta pelo autor citado só tende a enfraquecer o vínculo idiomático essencial para a formação do Mercado e a Nação Latino-americana- Se ao imperialismo lhe bastava com as 20 repúblicas, ao stalinismo já não lhe pareciam suficientes; as repúblicas indígenas operariam maravilhas. Esta versão grotesta da questão nacional no Perú, a Bolivia, e Argentina era a manifestação não só do servilismo político da era de Stalin, senão a degradação sem paralelos do pensamento marxista em Latino-américa.

Como Stalin havia escrito um livro sobre a questão nacional (na Russia), no qual descreve as diversas nacionalidades que a União Soviética tinha herdado do zarismo e se expunham as teses de Lenín sobre o direito a separar-se de ditas nacionalidades oprimidas, os stalinistas latino-americanos, sem preguiça, aplicaram com indudável energia esse mesmo critério, formulado em um Império Multinacional opressor semi-colonial fragmentada em vinte Estado... Pretenderam multiplicar a balcanização por médio da criação de novos Estados, por mais fantásticos que fossem.
Outros “teóricos”como Rodney Arismendi, do Partido Comunista de Uruguay, passavam da etnografia e consideravam à revolução latino-americana não como o fruto de uma necessidade histórica, senão como um fato geográfico: a revolução latino-americana é uma revolução continental “ e sua unidade essencial está determinada, em comclusão, pelo fato de quem é o principal inimigo: o imperialismo norte-americano”.

Em outras palavras, só pelo imperialismo Ianque existe a revolução latino-americana.Isto é em rigor falso. Sua “unidade essencial”já existia nos tempos de Bolívar, quando a nação latino-americana lutava por sua existência na epoca da hegemonia inglesa. A “unidade essencial” da revolução latino-americana não procede de um inimigo externo, por principal que seja, senão da íntima exigência de 600 milhões de latino-americanos para emergir da miséria e a humilhação. Para o stalinismo extrangerizante toda ação histórica deve obedecer sempre ao “fator externo”. Neste juízo vemos ao diligente comisionista servindo à diplomacia sovietica. Mas ao mesmo tempo, dito stalinista não tem lido a Stalin senão nos “missales” da época, pois não encontra em Latino-américa o menor rasgo nacional. Ao contrário, refere-se pluralmente “aos processos nacionais” de seus Estados, exatamente igual que os imperialistas.
Como conseqüência, o confortável deputado de Uruguay se pronuncia “contra as utopias pequeno burguesas que falavan de uma unidade ou confederação Latino-americana no marco das atuais estruturas”, mas Arismendi não se pronuncia a favor dessa unidade nem sequer no futuro socialista...Muito curioso o insularismo stalinista! As grandes potências não poderiam objetá-lo.
Obando, o já mencionado stalinista tribal, coincide com o vangloriado burócrata uruguaio deste modo: “Existe, por exemplo, a teoría que sustenta que não há diferenças nacionais entre os povos de Latino-américa, que todos conformam uma nação só...precisa ser denunciada como a variante latino-americana com a que o imperialismo Ianque tende a extirpar o patriotismo de nossos povos. É uma variante do cosmopolitismo que tende a negar a existência das nações, as nacionalidades e tribus de Latino.américa...Esta teoría é um emparedado de nacionalismo, cosmopolitismo, trotskismo e franquismo muito a gosto de Washington”.

Para quem há descoberto que Bolivia não é um Estado senão na realidade 34 nações, a evidência de que Latino-américa é uma Nação lhe deve resultar um horrível pesadelo. A idéia de que ao imperialismo lhe deve seduzir a unidade dos povos Latino-americanos, com o multiplicado poder econômico e político que esse fato supõe, é uma idéia, entre cochabambina e siberiana, cuja paternidade exclusiva deve reclamar o Sr. Obando.
Para compreender o triste destino do marxismo em Latino-américa e o Terceiro Mundo, fora das curiosidades etnográficas de Obando que acabamos de descrever, convém lembrar que a ditadura do General Batista contou com a colaboração dos comunistas cubanos durante a segunda guerra mundial, nas pessoas dos intelectuais stalinistas Juan Marinello e Carlos Rafael Rodríguez Ministros do ditador.
Rodríguez é o atual Vice-Presidente de Cuba. Na Argentina, Vittorio Codovilla, chefe do Partido Comunista, com o apóio ativo do Embaixador norte-americano Spruillie Braden, contribuiu a formar a União Democrática que enfrentou ao Coronel Perón nas eleições em 1946. Esse mesmo ano, os stalinistas de Bolivia, sob a proteção da Embaixada norte-americana fizeram o mesmo na Paz, e com os parabens de Pablo Neruda, interviram no derrocamento do governo revolucionário do Maior Gualberto Villarroel, organizador dos mineiros e dos índios, aforcado pela “turba democrática” em um farol da Praça Murillo, em frente à Casa de Governo. Em 1944, em um ato realizado em Managua para apoiar ao ditador Somoza fundava-se o Partido Comunista de Nicaragua. Em toda Latino-américa,os partidos comunistas predicavam a rutura de relações com Alemanha e a participação militar na guerra mundial junto às “democracias”.

Na Índia, no mesmo período, o dirigente comunista inglês Palme Dutt, “experto em assuntos indianos”, calificava a Gandhi “genio pacifista do mal da política indiana”. Enquanto Gandhi, Nehru e os dirigentes nacionalistas eram encarcerados pelos ingleses em l942, ou passavam à clandestinidade, os militares comunistas eram treinados como força voluntária pela oficialidade britânica para atuar na segunda guerra mundial. O secretário do Partido Comunista da Índia denunciava as greves obreras. Ao dia seguinte da independência, em 1947, os comunistas dirigiram uma revolta camponesa armada contra o governo indiano, que acavara de conquistar a independência nacional.
Em 1948 o Nizam de Haiderabad levantou a proibição que pesava sobre o Partido Comunista para utilizá-lo contra o Congresso Nacionalista. O mesmo ocorreu na Indonésia, onde os comunistas foram manipulados pelos colonialistas holandeses para enfraquecer o movimento nacionalista. A lista de aberrações “anticolonialistas” dos comunistas e de suas alianças com o imperialismo, antes e depois da segunda guerra mundial, sería interminável. Preferimos limitarmos aos exemplos já citados.

Vindicação de Bolívar

O que não podia entender este gênero de teóricos que fundava suas especulaciones sobre os textos da Academia de Ciências da U.R.S.S., é que se na Russia zarista , “prisão de povos”, a essência da política nacional do proletariado era o “direito a afastar-se”, em Latino-américa a médula da posição marxista na questão nacional consiste no “direito a unir-se”.
Para existir como nações normais, os povos amarrados à escravidão autocrática deviam separar-se dessa atadura que lhes impossibilitava o desenvolvimento econômico e cultural; para obter os mesmos objetivos, contariamente, os povos de Latino-américa devem federar-se. O inimigo dos povos extrangeiros - da Russia zarista era a autocrácia, que exercia seu poder reuniendo-os no seu punho; o inimigo fundamental dos povos latino-americanos é o imperialismo, que mantém seu control econômico direto e seu dominio político indireto fundado na separação das partes integrantes da nação Latino-americana. Se a criação de uma indústria pesada na Argentina resultou muito difícil, seja pelos limites do mercado, pelas duficuldades da comercialização nas condições de mercado mundial competitivo, ou por escassez de capitais, convém imaginar que tipo de indústria pesada poderia construir-se isoladamente em Cuba, em Honduras, em Salvador ou no Equador, só para dar poucos exemplos, e de que modo, ao menos que Equador fosse condenado eternamente à plantação de bananas, poderiam os Estados Latino-americanos por si mesmos fugir ao flagelo do mono-cultivo como não for por uma unidade econômica e uma planificação nacional de todos seus recursos.

Nem desde o ponto de vista do capitalismo, nem desde a perspectiva do socialismo pode concebir-se um desenvolvimento aislado das forças produtivas em cada um dos 20 Estados. Um dos fenômenos habituais do “izquerdismo extrangerizante” de Latino-américa, consiste em sua manifesta perplexidade ante a unidade Latino.americana:Trataria-se de federar os Estados após de fazer a revolução em cada um deles ou antes? A luta pela unidade de Latino-américa supõe a postergação da luta pela revolução em cada um dos Estados balcanizados?. Alcança plantear-se istos insensatos interrogantes para compreender como responê-los.

O triunfo revolucionário na Ilha de Cuba (em uma ilha!) implicou imediatamente a necessidade de quebrar a solidão do povo cubano. Todas as esperanças dos cubanos foram depositadas em um pronto triunfo revolucionário em Venezuela. É completamente natural que esta espontânea atitude se fundasse na evidencia: se a revolução triunfava em Venezuela ou em Centro-américa, se ia impor uma planificação conjunta de suas economias com a de Cuba, talvéz uma moeda comúm, uma política de alfandega semelhante, provavelmente uma federação política a breve praço. Este acercamento não teria um carater supra-nacional, quanto o Mercado Comúm Européio, constituido por antigas nações de línguas e história diferentes, senão essencialmente nacional integrado por partes separadas de um mesmo povo e que somente unidas podem alcançar prontamente as diversas etapas do crecimento econômico. A luta se inicia como é natural, nos leitos imediatos gerados pela balcanização; mas essa luta, deve ter um objetivo: a unidade, federação ou confederação dos povos de fala hispano-portuguesa. Isto não exclui o Estado de Haiti, cujo francês é menos crível do que seu “crioule”, falado pelo povo, e que vincula aos haitianos à patria comum, por não fazer referência aos direitos históricos que correspondem a Haití pelo papel exercitado por Alexandre Pétion, na independência de América.

De outro modo, a luta pela criação de 20 Estados “socialistas” de Latino-américa pre-supõe a inauguração da “miséria marxista”ou o estabelecimento de algum “tutor”(Brasil ou Argentina) circundado de uma nuvem de pequenos Estados enfraquecidos.
Mas esta união não será o fruto dos argumentadores inutéis da diplomacia, dos técnicos híbridos que semelham “facas sem folha”, nem das conferências incesantes da CEPAL, que só tem logrado o auto-desenvolvimento triunfante. A unidade de Latino-américa chega tarde de mais à história do mundo como para que seja o coronamento do desenvolvimento automático das forças produtivas de seu enfraquecido capitalismo.

A categórica necessidade dessa união ainda se abre paso atravéz dos governos mais reacionários, a bacia do Prata , as grandes represas que intercomunicam ao Brasil, Uruguay, Paraguay e a Argentina, o Pacto Andino, a crônica postergada canalização do Bermejo, a conexão das Bacias do Orinoco, o Amazonas, e o Prata, não poderão ser detidas por força nenhuma. A coincidência e a unidade política dos Estados permitirão o pleno desdobramento dos grandes projetos que permitam à América Crioula desenrolar o formidável empório físico descoberto por Alexandre de Humboldt.
Mas essa unidade política passa pelo meridiano da revolução nacional Latino-americana.

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