A questão nacional muda
de carater quando a constituição do imperialismo no
final do século XIX abre o período do saqueo geral
de povos e continentes enteiros. No século xx a questão
nacional se liga intimamente à questão colonial e
à luta contra o imperialismo mundial. Nos tempos de Marx
e Engels a questão nacional aparecia como a forma atrasada
da formação dos Estados Nacionais nos paises nos quais
por diversas razões ainda não haviam logrado sua coesão
estatal: Alemanha, Italia, Polonia, Irlanda, os checoslovacos, finlandeses,
sérvios, armenios e outras nacionalidades européias.
Os escravos e semi-escravos da Ásia, África, e Latino-america
não estavam nas considerações teóricas
dos socialistas da II Internacional pertencentes às “Nações
civilizadas”. A questão nacional restrigia-se à
questão nacional dos aludidos européus de segunda
classe. A II Internacional havia-se formado como resultado do crescimento
do capitalismo européu na hora de seu supremo esplendor;
os européus, tanto quanto os gregos gozavam das vantagens
da cultura ocidental graças à exploração
iníqua das colônias.
Retiam para si as liberdades democráticas que as nações
rejeitavam a seus escravos. Um proletariado privilegiado havia-se
criado em tais circunstâncias, mas o socialismo deste proletariado
só abraçava o campo da civilizacão. Tal foi
o carater do reformismo da II internacional, ( atual Internacional
socialista) que não só se manifestava pelas teses
de Berstein em relação à utopia de uma revolução
catastrófica, senão que tendia a repetir, em condições
radicalmente diferentes, os primeiros juiços de Marx e Engels
sobre o futuro do mundo semi-colonial e colônial: este sería
arrastado ao socialismo pelo proletariado triunfante de uma Europa
socialista.
Embora, este socialismo obeso da II Internacional da “belle
époque”, projetava a revolução para
um futuro distante. Pregava a filosofia do repouso e as maravilhas
da evolução constante. Os fundamentos materiais
dessa doutrina eram eloqüentes, já que desde a paz
de Sedán em 1870 até o conflito de 1914, o capitalismo
havia empreendido uma assombrosa carreira: a prosperidade geral,
o luxo, a cultura e a paz permitiram corromper a vastos circulos
de obreros na Europa e assentar as bases de uma ideologia conformista
que parecia justificar os juízos de Berstein.
Era previsível que a questão colonial e nacional
dos países atrasados não tivesse importância
para a social-democracia envolvida nessa atmosfera de incessante
bem-estar.
Um debate no Congresso de Stuttgart
Em relação a este fato bastará assinalar
um episódio significativo do Congresso Internacional Socialista
realizado em Stuttgart em 1907, ao que Lenín considerou:
“o melhor congresso internacional que se tenha celebrado
jamais”...
Haviam-se reunido em Stuttgart 884 delegados de 25 nações.
Estiveram presentes duas épocas: os grandes dirigentes
da social-democracia européia, Augusto Bebel, Clara Zetkin,
Kautsky, Rosa de Luxemburgo e os chefes revolucionários
desse Império multinacional situado entre Europa e Ásia,
entre a revolução socialista e a revolução
nacional: Lenín, Trotsky, Martov, Plejanov. As resoluções
sobre o militarismo, o imperialismo e as perspectiva da guerra
foram perfeitas . Somente um fato surpreendente e lamentável
viu Lenín no brilhante Congresso da Internacional : a discussão
sobre a questão colonial.
Na comissão que estudou o tema a maioria adotou um projeto
de resolução no qual lia-se o seguinte:
“O Congresso não rechaça por principio em
toda ocasião uma política colonial, que sob um regimem
socialista, possa exercer uma influência civilizador”
Lenín qüalificou de “mostruosa” a frase.
O dirigente socialista alemão Eduardo David quem manteve
essa teses.
Afirmava que “não se pode combater algo com nada.
Contra a política colonial capitalista, os socialistas
devem propor um programa positivo de proteção dos
direitos indígenas”
O expositor da posição socialista no Congresso
Socialista foi o holanês Van Kol (naquela época ainda
a pequena e civilizada Holanda gozava dos frutos de três
séculos de exploração de milhões de
Indonesios semi-escravos).
O socialista Van Kol de uma lógica rigorosa: afirmou que
“o anticolonialismo dos congressos não havia sido
útil para nada e que os social-demócratas deviam
reconhecer a existência indiscutível dos impérios
coloniais... e apresentar propostas concretas para melhorar o
tratamento dos indígenas, o desenvolvimento dos recursos
naturais e o aproveitamento dos recursos em beneficio de toda
a raça humana.
Perguntou aos contrários ao colonialismo se estavam realmente
preparados, tendo em conta a situação real, para
prescindir dos recursos das colônias, embora seus povos
os precisassem muito.
Lembrou que Bebel havia dito que nada era mau no desenvolvimento
colonial como tal e se refiriu aos êxitos dos holandeses
ao conseguir melhoras nas condições dos indígenas”.
Estes confortáveis socialistas européus de 1907
não tinham piedade dos indígenas até o extremo
de pôr em perigo seus chalets com tetos de lousa, seu bom
licor de Guinea, suas chaminé fumegantes e seus abrigos
beludos. Van Kol, com essa insinuante pergunta, persuadiu dos
recursos naturais necessitados por seus povos.
Naturalmente Van Kol tinha suas própias idéias sobre
a melhor maneira de conquistar uma colônia:
“Todas as forças socialistas devem impedir a consumação
destes regímenes salvagens de conquista e procurar que
se fizerem colonização, se faça para dignificar
homens e não para atrofiar e envilecer os povos”.
Exelente conselho. Também o holandês se permitiu
acrescentar que em “circunstâncias determinadas, a
política colonial pode ser obra de civilização”,
embora discretamente se reservou de descrever tais circunstâncias
para o socialismo. Concluiu sua exposição assinalando
o porvir:
“Há poucos socialistas que ousariam de afirmar que
no regime socialista não serão necessários
as colônias, que se fará da super-população
da Europa?...
O delegado alemão Eduard David não esteve por baixo
do holandês. Lembrou ao Congresso que “em um manifesto
eleitoral, o grupo socialista parlamentário ha declarado
que os povos de civilização superior têm o
direito e o dever de dar educação aos povos atrasados”.
Desde o outro ponto de vista este “socialista” acrescentou
:
“A Europa tem necesidade de colônias. Não tem,
a pessar de tudo , as suficientes. Sem colônias seríamos
assemelhados, desde o ponto de vista econômico, à
China”.. Resultou espectacular o resultado da votação
, pois a pessar de tais opiniões o Congresso rechaçou
a moção colonialista somente por 128 votos contra
108. A vitória, embora por pouco margem, foi lograda pelos
votos dos países mais atrasados, enquanto que a moção
colonialista, como coubia esperar, contou com o apóio dos
grandes partidos socialistas da Europa. Os russos votaram, naturalmente,
em contra.
O único partido da América do Sul representado
no Congresso de Stuttgart foi o Partido Socialista da Argentina.
Por isso que o seu voto fosse ainda mais representativo, pois
deu seu apóio à moção anticolonialista.
O partido do Dr. Juan B. Justo, notório partidário
das expedições civilizadoras a Africa e da supremacia
da raça branca? Isto sería realmente inexplicável
se não fosse pelo fato de que o Dr. Justo e seus amigos
não viajaram aquele ano à Alemanha. Dito partido
teve que ser representado por seu delegado permanente na Oficina
Socialista Internacional, Manuel Ugarte. Ugarte deu seu voto,
junto a Lenín, os poloneses, os búlgaros, os sérvios,
os espanhóis e outros,contra o descarado colonialismo dos
partidos européios. Como para que resulte inexplicável
o enterro histórico de Ugarte! Os suiços, cujo socialismo
impartia-se nas escolas de hoteleria, expresaram sua infinita
moderação abstendo-se.
Educado em uma atitude reverencial para a social-democracia alemã,
Lenín advirtiu impávido ao cínico oportunismo
dos grandes chefes desse país. Ao comentar os resultados
do Congresso de Stuttgart depois escreveu:
“Neste caso há feito ato de presença um rasgo
negativo do movimento obrero européu, rasgo que pode provocar
não poucos prejuízos à causa do proletariado
... o amplo poder colonial há levado em parte ao proletariado
européu a uma situação, que não é
seu trabalho o que mantém a toda a sociedade, senão
o trabalho dos indígenas quase totalmente dominado pelas
colônias.
A burguesia inglesa, por exemplo, obtém mais ingressos
dos milhões de habitantes da Índia e de outras colônias
suas do que a dos obreros ingleses. Tais condições
criam em certos países uma base material, uma base econômica
para poluir de chovinismo ao proletariado desses países”.
Os mesmos colonialistas da II Internacional que propunham justificar
desde a visão “socialista” a política
colonial de seus Impérios foram os mais resoltos partidários
da primeira guerra imperialista.
Este modelo de debates desgostava ao fundador do socialismo extrangerisante
na Argentina. O Dr. Justo daria seu juízo sobre o Congresso
de Stuttgart depois de alguns anos, nos seguintes termos:
“Os depoimentos socialistas internacionais sobre as colônias,
exceto algumas frases sobre a sorte dos nativos, se hão
limitado a negações sem sinceridade e infecundas.
Não mencionam sequer a liberdade de comércio, que
houbesse sido a melhor garantia para os nativos e reduzido a questão
colonial ao que devia ser”...
O livre-cambismo como garantia para os indígenas escravizados:
hei alí ao “mestre” do socialismo argentino
em toda sua sabeduria.
Não temos mencionado o nome de Manuel Ugarte como delegado
ao Congresso Socialista de Sttugart por casualidade. Enquanto
que o russo Lenín se surpreendia em frente ao colonialismo
dos delegados européus, Ugarte não tinha motivos
para maiores surpresas. Os conhecia muito bem, por suas freqüentes
visitas à Europa e de primeira mão estava informado
sobre os libres-cambistas argentinos. Em todos seus livros Ugarte
estabeleceu uma diferença radical entre os países
chamados civilizados, ou seja as grandes potências imperialistas
e os países fracos, conhecidos como colônias ou semi-coloniais.
Esta mesma distinção essencial havia sido marcada
por Lenín, muito antes do que os dirigentes russos estabeleceram
depois de sua morte un novo antagonismo: o Estado Socialista e
o mundo capitalista.
Posteriormente, os chineses da época de Mao-Tse-Tung coincidiram
em classificar os grandes dilemas de nossa época no enfrentamento
entre os países do Terceiro Mundo e as potências
imperialistas, porém a luta entre o Leste e Oeste.
Levando a consideração os movimentos nacionais
desde o ponto de vista puramente econômico (perigosa redução
que é necessário menejar com prudência), o
conteúdo dos movimentos nacionais pode ser abreviado deste
modo:
“Em todo o mundo, a época do triunfo do capitalismo
sobre o feudalismo esteve ligada a movimentos nacionais. A base
econômica destes movimentos estriba em que, para a vitória
completa da produção merantil, é necessário
que territórios com povoação de um só
idioma adquiram coesão estatal, sendo assim eliminados
quantos obstáculos se contrapuserem ao desenvolvimento
desse idioma e a sua consolidação na literatura.
O idioma é a maneira essencial de comunicação
entre os homens: a unidade do idioma e seu livre desenvolvimento
é uma das condições mais importantes de uma
circulação mercantil realmente livre e ampla, que
responda ao capitalismo moderno; de uma agrupação
livre e ampla da povoação em todas as classes. É
por último, a condição de uma estreita ligação
do mercado com todo proprietário, grande ou pequeno, com
todo vendedor e comprador”.
Nações oprimidas e nações
opressoras
Já temos dito que no século XIX a questão
nacional, traçava-se nos países atrasados da Europa,
Alemanha, Italia, Polônia, etc. Os movimentos nacionais
no século XX embora não se manifestam na Europa
senão fora dela, isto é, nos países colonias
e semi-colônias, onde aparecem não em virtude do
desenvolvimento as forças produtivas internas alias pela
crisis mundial do imperialismo que os oprime. Em tais condições,
os movimentos nacionais dos países atrasados já
não livram sua luta contra o feudalismo interno senão
contra o imperialismo externo, ao que enfraquece nos seus próprios
cimentos.
Para desmentir àqueles que confiavam em uma progressiva
“pacificação”e “brandura”
do imperialismo a causa da prosperidade adquirida depóis
de 1945, seus traços agresivos e expansivos não
hão feito mais que aumentar. As intervenções
norte-americanas em Cuba, Santo Domingo, Grenada, e Nicaragua,
a agressão militar inglêsa nas Malvinas, da mesma
maneira que a intrusão ianque na Coréia e em Vietnam,
para não esquecer o conflito do Canal de Suez em 1956,
demostram categoricamente o carater agressivo do imperialismo
moderno.
Transformada a União Soviética em grão potência
da era misilística, seus postulados de “internacionalismo
proletário” não hão podido ocultar
a invasão militar na Hungria, Checoslováquia, e
Afganistan, mesmo assim como a pressão militar e política
sobre Polônia. Os conflitos fronteriços entre a U.R.S.S
e a China, que mantem sobre as armas a multidões de homens,
o mesmo que o estado de guerra quase permanente entre Vietnam
e Cambóia, constituem a demostração mais
perfeita que a conquista do poder e a creação de
um Estado considerado a si mesmo como socialista, fundado na propriedade
estatal dos médios de produção, não
põem ponto final às aspirações nacionalistas
e territoriais das mencionadas nações.
Se a U.R.S.S há chegado a ser um país imperialista,
como afirmam os chineses, é um tema que deixaremos para
seu tratamento aos politicólogos ou “marxólogos”,
se for que houver profissões semelhantes. Da história
contemporânea em todo caso, desprende-se que enquanto os
russos e americanos procuram um “equilibrio” que preserve
seus poderes e áreas de influências, para os povos
do Terceiro-mundo e de Latino-américa o máximo objetivo
não é o equilibrio senão a rutura do equilibrio.
Em isso radica sua própia salvação.
Que dita luta está longe de ser simples, racional e transparente,
o demostra a série de movimentos nacionais que irrompem
no Terceiro-mundo sob as roupagens mais diversos e muito longe
da tipología política concebida pelos européus.
Em nome do Islam, sob a condução do Ayatollah Komeini,
do “socialismo árabe” como o Coronel Kadhafi
ou o Exército peruano com o General Velazco Alvarado, as
velhas noções sobre o caráter “revolucionário”
dos movimentos nacionais e sociais hão perdido todo valor.
O próprio conceito ocidental do “progressivo”
ou “reacionário”, ou da “esquerda”
ou a “direita” de idêntico origem exige seu
uso com escrupuloso cuidado.
Sob as forças reais em presença e suas máscaras
ideológicas León Trotsky há escrito o seguinte:
“O imperialismo somente pode existir porque há nações
atrasadas em nosso planeta, países coloniais e semi-coloniais.
A luta destes povos oprimidos pela inidade e a independência
nacional tem um duplo caráter progressivo, pois, por um
lado , prepara condições favoráveis de desenvolvimento
para seu próprio uso, e por outro, dirige rudes golpes
ao imperialismo.
De onde se seduz, em parte, que em uma guerra entre a república
democrática imperialista e a monarquia bárbara e
atrasada de um país colonial, os socialistas devem estar
enteramente do lado do país oprimido, a pesar de serem
monárquico, e contra do país opresor, por muito
“democrático” que seja.
Espontaneamente vem à memória a guerra de Malvinas.
Um conflito que foi mantido entre um governo militar de uma ditadura
na Argentina semi-colonial contra um país imperialista
governado democráticamente, como o Reino Unido. No entanto,
como resultou notório para toda Latino-américa,
menos para grão parte da “inteligência”
argentina as “formas” políticas encobriram
o desnivel histórico-social de ambos países. E do
mesmo modo que no interior de uma nação as forças
revolucionárias, nacionalistas ou socialistas, sempre apoiam
as aspirações de justiça das maiorias obreras
e populares contra das minorias oligárquicas, em escala
internacional e seu dever é apoiar ao país injustamente
relegado contra as potências que exercem a injustiça
a escala planetária, qualquer sejam transitoriamente os
regimenes políticos de ambos países.
Nos textos reproduzidos pode observar-se que os teóricos
e políticos russos, haviam compreendido os problemas de
Oriente de um modo penetrante. Seus sucesores na União
Soviética pouco têm aprofundado na matéria.
Seus interesses de grão potência lhes sugere uma
conduta básicamente dirigida a apresentar tal condição.
Assim como o livrecambismo é uma doutrina imperialista
para a exportação, para a União Soviética
os artigos de exportação é o “socialismo
internacionalista”, mas o grão nacionalismo russo
seu metro de ouro.
Que a democracia formal não é o elemento para valorar
os movimentos nacionais, senão que para juzgá-los
se impõe estudar as conseqüências praticas derivadas
de sua luta contra o imperialismo; e de que o mundo moderno assiste
à oposição mundial entre países opressores
e países oprimidos, estas são as teses principáis
do debate no socialismo européu e asiático do periodo
citado. Compreende-se que Internacional socialista e os social-demócratas
de hoje recusam aceitar teses semelhantes que já tinham
rechaçado seus antecesores da II Internacional. Isso significaría
condenar-se a si mesmos e à própria Europa “socialista”
aonde estabelecem seu poder.
Conseqüências na Latino-américa
do desconhecimento de seus problemas pelos teóricos marxistas-leninistas
Nas Obras Completas, de 40 volumens, Lenín só refere
três vezes a América do Sul, seis vezes à
Argentina, quatro ao Brasil, quatro a México, e só
uma vez a Chile. Trata-se pelo demais , de referências incidentáis,
miutas vezes incluidas em uma menção estadística.
Aos restantes Estados de Latino-américa não os alude
jamais. Em um artigo escrito em 1916, diz: “Não vamos
a “sustentar” a comedia da república em algum
principado de Mónaco ou as aventuras “republicanas”
dos “generáis” nos pequenos países da
América do Sul ou em alguma ilha do Oceano Pacífico,
mas disto não se deduz que seja permitido esquecer a consigna
da república para os movimentos democráticos e socialistas”
Nas discussões dos primeiros Congressos da Internacional
Comunista, Latino-américa foi omitida por completo. O Presidente
da Internacional, Gregori Zinoviev, no V Congreso de 1924 disse
no seu discurso:”Pouco ou nada sabemos da Latino-américa”.
O delegado por México era um escritor norte-americano,
Bertram Wolfe, quem protestou por essa ignorância. Zinoviev
contestou: “É que não se nos informa”...
Antes de radicar-se no México, onde formulou juizos notáveis
sobre a revolução Latino-americana, León
Trosky tampouco tinha conhecimentos sérios sobre Latino-américa.
Em sua História da Revolução Russa escreveu:
“As revoluções crônicas das Repúblicas
Sul-americanas nada têm de comum com a revolução
permanente; em certo sentido, contituem sua antiteses”.
Na Latino-américa havia tido lugar a revolução
mexicana! Sandino combatia com as armas na mão contra as
tropas Ianques, a Coluna Prestes marchava através de todo
o Brasil, o movimento nacional Yrigoyenista lebava ao poder à
pequena burguesía nacionalista, mas os notáveis
teóricos e chefes da Revolução Russa “careciam
de informação”.
A impermeabilidade da teoría marxista em Latino-américa
não só derivava da indiferença para estas
duas grandes figuras euro-asiaticas do socialismo. A própria
doutrina se contrapunha à “americanização”.
Pois o que conhecemos como “doutrina marxista” jamais
foi concebida como tal por Marx, quem somente se consagrou a pensar
e escrever sobre muitas das mais variadas questões sem
remontar-se jamais a sistema algum. A imediata posteridade tomou
a seu cargo formular uma especie de “codificação”
de suas idéias mas logo a familia se separou em múltiples
e antagônicos sucessores. O essencial do pensamento marxista,
enquanto que permanece inmutável em seus diversos interpretes,
salvo na “prática” de Lenín e de Mao,
é sua universalidade e seu internacionalismo. Desta maneira
entrou a “doutrina marxista” em Latino-américa,
que sofria de universalidade e de internacionalismo até
o martírio, pois havia sido despedazada em sua integridade
nacional e incorporada ao mercado mundial do imperialismo.
Com a finalidade de que essa “doutrina marxista”,
fosse útil, havia que destruí-la e utilizá-la
novamente no seus elementos viventes para voltar reconhecível
à realidade Latino-americana. É o que tinha feito
Lenín na Russia e Mao na China. Mas constituiu uma tarefa
excessiva para os homens fracos dos partidos comunistas latinoamericanos,
que faziam culto aos russos e aos chineses e repetiam como louros
barranqueiros a ambos, sem entender a nenhum dos dois, e muito
menos ainda à América Crioula.
Exceção feita por Haya de la Torre e de José
Carlos Mariátegui, nenhum dos partidos comunistas latino-americanos,
puderam brindar uma generalização teórica
e creações originárias às grandes
experiências revolucionárias latino-americanas.
A inprensa imperialista europèia havia submetido a sua
gozação despiadada as “crônicas revoluções
Sul-americanas”, produto direto da “balcanização”
imposta e aproveitadas por essas mesmas potências. A informação
dos revolucionários da Europa devia nutrir-se, a falta
de outras mais responsáveis, destas fontes contaminadas.
Pois os problemas da revolução latinoamericana,
portanto, deverão ser estudados e resolvidos pelos próprios
latino-americanos. Já que isso mesmo tinha ocorrido em
todas as revoluções.
Se cada revolução é “peculiar”
e “excepcional”, nos píses semi-coloniais cruzam-se
diversos níveis técnicos e períodos históricos
de surpreendente antagônismo; esta combinação
de atraso e progresso, de indústria e barbárie produz
fenômenos sociais e políticos determinantes da ação
política e de seus grandes objetivos. Ainda dentro de Latino-américa
balcanizada ditos níveis revelam diferenças muito
acusadas que exigem múltiples métodos políticos
de ação revolucionária.
As Repúblicas Quéchua e Aimara
Quando o processo conservador da União Soviética
afetou o funcionamento da Internacional Comunista, se manifestaram
em Latino-américa os câmbios produzidos na direção
latino-americana do comunismo. Se Lenín e Zinoviev confesavam
que nada sabiam de Latino-américa, Stalín pretendia
sabê-lo todo. A situação piorou, como era
de esperar.
Iniciou-se o período “stalinista”. Das vaguidades
e abstrações dos inexperientes comunistas latino-americanos
magnetizados pelos primeiros anos da Revolução russa,
se passou à aplicação de fórmulas
ressecas extraidas de Moscou e aplicadas de maneira implacável
à realidade de Latino-américa. Deste modo, o stalinismo
do Perú pode proclamar em 1931, a teoria de afastar esse
país em duas Repúblicas, uma quéchua e outra
aimara.
O Partido Comunista da Argentina
Ao registrar a presença de milhares de camponeses judéus
nas colônias de Entre Rios, declarava que ditas “minorias
nacionáis” estavam oprimidas pela “ nacionalidade
argentina dominante”e afirmavam o direito dos colonos italianos
e judéus “à autodeterminação
nacional”, e à creação de Estados autônomos.
Na Bolivia um dos últimos fragmentos separados do Vice-Reinado
do Rio da Prata, e que simbolizava o fracasso do Libertador para
unificar Latino-América, viria ainda aparecer outra teoría
da
balcanização levada nesta vez ao delírio
mesmo.
Um teórico do stalinismo boliviano, Jorge Obando, realizou
um examem da estrutura “nacional” da Bolivia e descubrui
que esta República, composta pelas velhas provincias alto-peruanas
de Vice-Reinado do Rio da Prata, que a oligarquia portenha lançou
a uma autonômia suicida e à qual o Chile na guerra
do Pacifico arrebatou sua saida ao mar, além disto o território
de Antofagasta, sería um “Estado Multinacional”,
opressor de dúzias de nacionalidades.
A “Nacionalidade boliviana dominante” oprimiría
a 34 nacionalidades, tribus e fragmentos etnográficos “subjugados”
por aquela. Diz o senhor Obando: “se Bolivia é um
Estado Multicolonial, que nações, nacionalidades,
tribus e grupos etnográficos entram em sua composição?
Nós consideramos que a Bolovia está constituida
por: uma nação: bolivianos; cinco nacionalidades
principais: aimaras, quéchuas, chiquitos, moxos, chiriguanos;
oito nacionalidades pequenas: chapacuras, itonamas, canichanas,
movinas, cayuvavas, pacaguaras, iténez, guarayos; várias
tribus e grupos etnográficos: chipayas, urus, yuracarés,
mocetenes, tacanas, maropas, apolistas, tobas, mataguayos, abipones,
lenguas, samucos, saravecas, otuques, curuminacas, covarecas,
curavés, tapiis, curucanecas, paiconecas e sirionós”...
O General Belgrano, apoiado pelo General San Martín, propunha
em 1816 estabelecer uma monarqía incaica para América
em emancipação, a tese monárquica perseguia
o objetivo de contar para a revolução com as grandes
massas do aniquilado império incaico e de facilitar um
nível tal de centralização política
que tornasse imposível a dispersão dos novos estados.
Se houvesse truinfado esta teses, talvez o quéchua com
o espanhol teriam sido as línguas dominantes da América
crioula , unida e independente, talvez com uma terceira língua
a que falavam os mexicas.
Grandes nações, como Canadá, são biligües,
e Estados prósperos como a Suiça falam cuatro línguas,
para não falar da União Soviética, onde se
falam e escrevem dezenas de línguas.
Nesse caso, não teria sido imposível um marquesado
incaico para o senhor Obando e a impossibilidade de que Stalin
não houvesse entrado jamais na vida do Marquês. Mas
não pude ser.
Afetado de grave russificação, Obando há
degradado a questão nacional Latino-americana à
condição de pura etnografía. Esta reivindicação
abstrata dos direitos indígenas -que não possui
Bolovia no seu conjunto- tenta erigir às diversas etnias
em fatores independentes do destino da Bolivia e de Latino-América.
A tradicional resistência dos aimaras e quéchuas
a usar a língua castelhana não é só
psicológica ( por tratar-se da língua dos antigos
dominadores) senão que ante tudo reconhece uma causa social,
econômica e cultural. A segregação de camponeses
indígenas da econômia moderna, a subsistência
do regime do “pongueaje”*, sua reclusão na
econômia natural, seu secular afastamento da cidade monetária
e do mundo mercantil eram as causas que fixavam às línguas
tradicionáis ao segregado e explorado campones quéchua
o aimara.
Já Mariátegui tinha identificado o indio com campones
havia situado o problema em seu verdadeiro terreno ao transferir
a questão racial à questão agrária.
Bastou o triunfo da revolução nacionalista de 1953
e a resolução elemental da questão com a
distribuição de terra entre os camponeses , para
ampliar a influência linguística espanhola na Bolivia.
A necessidade de comerciar os excedentes nas cidades e a descoberta
comovedora de sua liberdade pessoal, assim como de seu inédito
poder de compra, impulsionou a centenares de camponeses proprietários
a apreender o castelhano. As escolas nas zonas rurais prepararam
desde então às novas generações no
uso la língua nacional de Latino-américa, junto
ao português.
Nos caso que nos atinge, só ao imperialismo disgregador,
cujas predileções “indigenistas” são
bem conhecidas, assim quanto sua sutil campanha anticatólica
e anti-hispánica, pode beneficiar a tendência a multiplicar
os grupos nacionais ou lingüisticos ou, melhor ainda, os
novos Estados, em uma América Crioula fragmentada desde
a morte de Bolívar e cuja última República
de Panamá, em 1903, resultou uma invenção
do imperialismo Ianque para contruir o Canal de Panamá
contra a oposição do senado da Colômbia, país
do qual Panamá era sua provincia nortenha.
Bem, está certo que o enunciado de Mariátegui era
algo simples, e que o título de propriedade de seu prédio
não transformava de um dia para outro aos melancólicos
filhos de Atahualpas em “farmers” do Méio-oeste
norte-americano.
Pesava sobre eles um doloroso fardo de séculos e a mirada
hostil de uma cultura diferente.
Depois da ação do imperialismo disgregador, corresponderia
ao stalinismo russificante realizar um esforço regresivo
da classe à raça, da Nação Latinoamericana
ao Estado Boliviano e do Estado Boliviano ao Estado Multinacional
(ou pluri-tribal)- Esta grotesca e à vez trágica
teoría, e precisamente por seu pueril exageração,
permite inundar de luz o debate e apreciar suas verdadeiras proposições.
O Insularismo stalinista
Uma teoría fragmentista de índole indigenista,
como a proposta pelo autor citado só tende a enfraquecer
o vínculo idiomático essencial para a formação
do Mercado e a Nação Latino-americana- Se ao imperialismo
lhe bastava com as 20 repúblicas, ao stalinismo já
não lhe pareciam suficientes; as repúblicas indígenas
operariam maravilhas. Esta versão grotesta da questão
nacional no Perú, a Bolivia, e Argentina era a manifestação
não só do servilismo político da era de Stalin,
senão a degradação sem paralelos do pensamento
marxista em Latino-américa.
Como Stalin havia escrito um livro sobre a questão nacional
(na Russia), no qual descreve as diversas nacionalidades que a
União Soviética tinha herdado do zarismo e se expunham
as teses de Lenín sobre o direito a separar-se de ditas
nacionalidades oprimidas, os stalinistas latino-americanos, sem
preguiça, aplicaram com indudável energia esse mesmo
critério, formulado em um Império Multinacional
opressor semi-colonial fragmentada em vinte Estado... Pretenderam
multiplicar a balcanização por médio da criação
de novos Estados, por mais fantásticos que fossem.
Outros “teóricos”como Rodney Arismendi, do
Partido Comunista de Uruguay, passavam da etnografia e consideravam
à revolução latino-americana não como
o fruto de uma necessidade histórica, senão como
um fato geográfico: a revolução latino-americana
é uma revolução continental “ e sua
unidade essencial está determinada, em comclusão,
pelo fato de quem é o principal inimigo: o imperialismo
norte-americano”.
Em outras palavras, só pelo imperialismo Ianque existe
a revolução latino-americana.Isto é em rigor
falso. Sua “unidade essencial”já existia nos
tempos de Bolívar, quando a nação latino-americana
lutava por sua existência na epoca da hegemonia inglesa.
A “unidade essencial” da revolução latino-americana
não procede de um inimigo externo, por principal que seja,
senão da íntima exigência de 600 milhões
de latino-americanos para emergir da miséria e a humilhação.
Para o stalinismo extrangerizante toda ação histórica
deve obedecer sempre ao “fator externo”. Neste juízo
vemos ao diligente comisionista servindo à diplomacia sovietica.
Mas ao mesmo tempo, dito stalinista não tem lido a Stalin
senão nos “missales” da época, pois
não encontra em Latino-américa o menor rasgo nacional.
Ao contrário, refere-se pluralmente “aos processos
nacionais” de seus Estados, exatamente igual que os imperialistas.
Como conseqüência, o confortável deputado de
Uruguay se pronuncia “contra as utopias pequeno burguesas
que falavan de uma unidade ou confederação Latino-americana
no marco das atuais estruturas”, mas Arismendi não
se pronuncia a favor dessa unidade nem sequer no futuro socialista...Muito
curioso o insularismo stalinista! As grandes potências não
poderiam objetá-lo.
Obando, o já mencionado stalinista tribal, coincide com
o vangloriado burócrata uruguaio deste modo: “Existe,
por exemplo, a teoría que sustenta que não há
diferenças nacionais entre os povos de Latino-américa,
que todos conformam uma nação só...precisa
ser denunciada como a variante latino-americana com a que o imperialismo
Ianque tende a extirpar o patriotismo de nossos povos. É
uma variante do cosmopolitismo que tende a negar a existência
das nações, as nacionalidades e tribus de Latino.américa...Esta
teoría é um emparedado de nacionalismo, cosmopolitismo,
trotskismo e franquismo muito a gosto de Washington”.
Para quem há descoberto que Bolivia não é
um Estado senão na realidade 34 nações, a
evidência de que Latino-américa é uma Nação
lhe deve resultar um horrível pesadelo. A idéia
de que ao imperialismo lhe deve seduzir a unidade dos povos Latino-americanos,
com o multiplicado poder econômico e político que
esse fato supõe, é uma idéia, entre cochabambina
e siberiana, cuja paternidade exclusiva deve reclamar o Sr. Obando.
Para compreender o triste destino do marxismo em Latino-américa
e o Terceiro Mundo, fora das curiosidades etnográficas
de Obando que acabamos de descrever, convém lembrar que
a ditadura do General Batista contou com a colaboração
dos comunistas cubanos durante a segunda guerra mundial, nas pessoas
dos intelectuais stalinistas Juan Marinello e Carlos Rafael Rodríguez
Ministros do ditador.
Rodríguez é o atual Vice-Presidente de Cuba. Na
Argentina, Vittorio Codovilla, chefe do Partido Comunista, com
o apóio ativo do Embaixador norte-americano Spruillie Braden,
contribuiu a formar a União Democrática que enfrentou
ao Coronel Perón nas eleições em 1946. Esse
mesmo ano, os stalinistas de Bolivia, sob a proteção
da Embaixada norte-americana fizeram o mesmo na Paz, e com os
parabens de Pablo Neruda, interviram no derrocamento do governo
revolucionário do Maior Gualberto Villarroel, organizador
dos mineiros e dos índios, aforcado pela “turba democrática”
em um farol da Praça Murillo, em frente à Casa de
Governo. Em 1944, em um ato realizado em Managua para apoiar ao
ditador Somoza fundava-se o Partido Comunista de Nicaragua. Em
toda Latino-américa,os partidos comunistas predicavam a
rutura de relações com Alemanha e a participação
militar na guerra mundial junto às “democracias”.
Na Índia, no mesmo período, o dirigente comunista
inglês Palme Dutt, “experto em assuntos indianos”,
calificava a Gandhi “genio pacifista do mal da política
indiana”. Enquanto Gandhi, Nehru e os dirigentes nacionalistas
eram encarcerados pelos ingleses em l942, ou passavam à
clandestinidade, os militares comunistas eram treinados como força
voluntária pela oficialidade britânica para atuar
na segunda guerra mundial. O secretário do Partido Comunista
da Índia denunciava as greves obreras. Ao dia seguinte
da independência, em 1947, os comunistas dirigiram uma revolta
camponesa armada contra o governo indiano, que acavara de conquistar
a independência nacional.
Em 1948 o Nizam de Haiderabad levantou a proibição
que pesava sobre o Partido Comunista para utilizá-lo contra
o Congresso Nacionalista. O mesmo ocorreu na Indonésia,
onde os comunistas foram manipulados pelos colonialistas holandeses
para enfraquecer o movimento nacionalista. A lista de aberrações
“anticolonialistas” dos comunistas e de suas alianças
com o imperialismo, antes e depois da segunda guerra mundial,
sería interminável. Preferimos limitarmos aos exemplos
já citados.
Vindicação de Bolívar
O que não podia entender este gênero de teóricos
que fundava suas especulaciones sobre os textos da Academia de
Ciências da U.R.S.S., é que se na Russia zarista
, “prisão de povos”, a essência da política
nacional do proletariado era o “direito a afastar-se”,
em Latino-américa a médula da posição
marxista na questão nacional consiste no “direito
a unir-se”.
Para existir como nações normais, os povos amarrados
à escravidão autocrática deviam separar-se
dessa atadura que lhes impossibilitava o desenvolvimento econômico
e cultural; para obter os mesmos objetivos, contariamente, os
povos de Latino-américa devem federar-se. O inimigo dos
povos extrangeiros - da Russia zarista era a autocrácia,
que exercia seu poder reuniendo-os no seu punho; o inimigo fundamental
dos povos latino-americanos é o imperialismo, que mantém
seu control econômico direto e seu dominio político
indireto fundado na separação das partes integrantes
da nação Latino-americana. Se a criação
de uma indústria pesada na Argentina resultou muito difícil,
seja pelos limites do mercado, pelas duficuldades da comercialização
nas condições de mercado mundial competitivo, ou
por escassez de capitais, convém imaginar que tipo de indústria
pesada poderia construir-se isoladamente em Cuba, em Honduras,
em Salvador ou no Equador, só para dar poucos exemplos,
e de que modo, ao menos que Equador fosse condenado eternamente
à plantação de bananas, poderiam os Estados
Latino-americanos por si mesmos fugir ao flagelo do mono-cultivo
como não for por uma unidade econômica e uma planificação
nacional de todos seus recursos.
Nem desde o ponto de vista do capitalismo, nem desde a perspectiva
do socialismo pode concebir-se um desenvolvimento aislado das
forças produtivas em cada um dos 20 Estados. Um dos fenômenos
habituais do “izquerdismo extrangerizante” de Latino-américa,
consiste em sua manifesta perplexidade ante a unidade Latino.americana:Trataria-se
de federar os Estados após de fazer a revolução
em cada um deles ou antes? A luta pela unidade de Latino-américa
supõe a postergação da luta pela revolução
em cada um dos Estados balcanizados?. Alcança plantear-se
istos insensatos interrogantes para compreender como responê-los.
O triunfo revolucionário na Ilha de Cuba (em uma ilha!)
implicou imediatamente a necessidade de quebrar a solidão
do povo cubano. Todas as esperanças dos cubanos foram depositadas
em um pronto triunfo revolucionário em Venezuela. É
completamente natural que esta espontânea atitude se fundasse
na evidencia: se a revolução triunfava em Venezuela
ou em Centro-américa, se ia impor uma planificação
conjunta de suas economias com a de Cuba, talvéz uma moeda
comúm, uma política de alfandega semelhante, provavelmente
uma federação política a breve praço.
Este acercamento não teria um carater supra-nacional, quanto
o Mercado Comúm Européio, constituido por antigas
nações de línguas e história diferentes,
senão essencialmente nacional integrado por partes separadas
de um mesmo povo e que somente unidas podem alcançar prontamente
as diversas etapas do crecimento econômico. A luta se inicia
como é natural, nos leitos imediatos gerados pela balcanização;
mas essa luta, deve ter um objetivo: a unidade, federação
ou confederação dos povos de fala hispano-portuguesa.
Isto não exclui o Estado de Haiti, cujo francês é
menos crível do que seu “crioule”, falado pelo
povo, e que vincula aos haitianos à patria comum, por não
fazer referência aos direitos históricos que correspondem
a Haití pelo papel exercitado por Alexandre Pétion,
na independência de América.
De outro modo, a luta pela criação de 20 Estados
“socialistas” de Latino-américa pre-supõe
a inauguração da “miséria marxista”ou
o estabelecimento de algum “tutor”(Brasil ou Argentina)
circundado de uma nuvem de pequenos Estados enfraquecidos.
Mas esta união não será o fruto dos argumentadores
inutéis da diplomacia, dos técnicos híbridos
que semelham “facas sem folha”, nem das conferências
incesantes da CEPAL, que só tem logrado o auto-desenvolvimento
triunfante. A unidade de Latino-américa chega tarde de
mais à história do mundo como para que seja o coronamento
do desenvolvimento automático das forças produtivas
de seu enfraquecido capitalismo.
A categórica necessidade dessa união ainda se abre
paso atravéz dos governos mais reacionários, a bacia
do Prata , as grandes represas que intercomunicam ao Brasil, Uruguay,
Paraguay e a Argentina, o Pacto Andino, a crônica postergada
canalização do Bermejo, a conexão das Bacias
do Orinoco, o Amazonas, e o Prata, não poderão ser
detidas por força nenhuma. A coincidência e a unidade
política dos Estados permitirão o pleno desdobramento
dos grandes projetos que permitam à América Crioula
desenrolar o formidável empório físico descoberto
por Alexandre de Humboldt.
Mas essa unidade política passa pelo meridiano da revolução
nacional Latino-americana.
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